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Foto do escritorIury D'avila

Análise: O Mecanismo (1-2 Temporada)


A operação lava jato é um dos processos policiais mais conhecido, debatido e polemico da atual história do Brasil. A operação que investigou e descobriu crimes políticos, acabou derrubando muita gente de poder não só da politica, como também empresários e banqueiros. A Netflix a um tempo atrás decidiu adaptar essa história baseado em um livro que tenta explicar essa fase politica do Brasil, e hoje nós vamos comentar um pouco das duas primeiras temporadas dessa serie. Com isso em mente, se preparem jovens que hoje é dia dos dois primeiros anos de O Mecanismo.


Bom jovens, é importante ressaltar que nessa análise nós não iremos nos expor opiniões politicas ou defender qualquer que seja os lados expostos na série. Vale também citar que nós não estamos aqui para julgar as veracidades dos fatos apresentados, e sim apenas analisar a estrutura do roteiro e ver se ele funciona. Com isso em mente, nós iremos apenas citar os fatos políticos apresentados na serie e sem questionar se aquilo é real ou não, para evitar justamente controversas politicas por conta da fragilidade do mundo eleitoral atual.


O enredo basicamente conta a história inspirada na famosa operação lava jato, misturando personagens inspirados em pessoas reais com personagens criados para a série. A trama começa se inicia com um veterano da policia federal chamado de Marco Ruffo indo atrás de um doleiro em uma investigação. Porém nessa história, ele sem querer, com a ajuda de outa veterana conhecida como Verena Cardoni, acaba descobrindo um esquema gigantesco de roube que vai de pequenas pequenos laranjas ate grandes políticos do Brasil.


A primeira coisa que é interessante falar sobre O Mecanismo em geral, é o formato de roteiro em que a estrutura da série é montada, pois obviamente a operação Lava Jato não é tão redondinha como eles contam na série. Claramente ela tem algumas ramificações que se tornaram irrelevantes no roteiro, ou não foram adaptadas ou simplesmente não foram jogadas na história. O fato é que a liberdade de trama ser apenas inspirada em um livro que narra a história da Lava Jato, e o fato de termos personagens não reais na trama, conecta a tese que a liberdade para eles montarem uma narrativa mais redondinha funciona. E é justamente por isso que o Mecanismo se torna uma série mais interessante do que ela já é nessas duas primeiras temporadas. O fator narrativo funciona pois a história real é interessante, e o drama dos arcos funcionam por conta dessa liberdade de roteiro.


A direção de O mecanismo é feita por vários caras experientes do Brasil, mas eu creio que a assinatura mais forte seja a do José Padilha. Ele foi quem originalmente começou nessa função, e basicamente o diretor fez mais um daqueles tantos trabalhos dele que a gente tanto curte. Ele usou a sua característica de colocar o protagonista para narrar a trama, e amarrar muitos dos fatos através desse personagem que vai explicando para o público por fora o que está por acontecer em tela. Isso é clássico do Padilha, e junto de um roteiro muito referente tanto ao Brasil como a clássicos de várias mídias diferentes, o Padilha conseguiu agradar bastante usando o talento Selton Mello para dar mais vida ainda a série.


A primeira temporada foca muito na fase inicial da Lava Jato e mostra uma fase dessa história que em sua maior parte não é tão conhecida pelo grande público. E essa primeira temporada é muito interessante, pois além de ter diálogos sensacionais, e um roteiro bem amarradinho, ela não se fecha completamente e deixa umas pontas muitos soltas para o ano seguinte. Essa temporada inicial, no meu ver, serviu muito para mostrar para o mundo o lado mais podre do Brasil, e narrativamente falando, entregar para o grande público, da maneira mais didática possível, o inicio dessa história que a gente só conhecida por entre linhas. Obviamente a veracidade dos fatos apresentados pode e deve ser questionada, mas pelo menos a gente tem uma noção de onde isso começou e para onde vai. Tanto que o fim da primeira temporada acontece em um ponto de transição para um período que é um pouco mais popular em nosso país.


Eu comentei que o José Padilha é o diretor original dessa serie e que a assinatura dessa produção é dele, lembram? E essa assinatura fica muito visível no fato de que ele foi ele praticamente quem ritmou a série sendo o diretor do episodio inicial. Todos os outros episódios tiveram diretores diferentes, mas ele foi quem apostou no projeto, e foi ele quem basicamente escreveu a rota para os outros seguirem. E nesse sentido, eu vejo o Mecanismo como uma série no geral bem dirigida, e com um tom bem sinistro. A série é quase sempre tensa, e quem alivia ela de vez em quando é o próprio personagem do Selton Mello, usando seu jeito sarcástico que funciona muito bem.


Já falando dos personagens, tantos os reais quanto os fictícios no meu ver são muito bem montados. Eu gosto bastante de como cada um é conduzido, e principalmente curto bastante o grupo policial, pois eles tem uma dinâmica e uma interação bem legal. Além disso no meu ver, os diálogos desse centro são os mais interessantes.


Em 2019 chegou na Netflix a segunda temporada, e dessa vez o buraco era bem mais embaixo. No segundo ano de O Mecanismo, primeiramente é legal falar que muitas das falhas da primeira temporada, foram corrigidas nessa segunda. Eu acho que agora todo mundo sabia bem o que fazer, se sentia confortável em tela, e a direção se encontrou com o Padilha comandando todos os episódios. Porém nem tudo era flores, nessa temporada o foco não seria mais em caçar banqueiros ou doleiros... Políticos era a bola da vez, e a cautela com esse tema precisava ser bem maior.


A operação Lava Jato nessa altura do campeonato tinha entrado em uma fase que o impeachment da Ex-presidente Dilma era o foco central. E no meu ver, esse roteiro foi escrito em cima de muitas pisadas de ovo. Obviamente não por medo de qualquer coisa relacionada ao governo, mas sim de não cometer algum erro que prejudicasse a credibilidade da série. Querendo ou não, todo mundo da produção sabia que o momento atual do Brasil é frágil, e para falar de politica nessa profundidade, precisava haver certa precaução.


Em todo caso, o roteiro dessa temporada foca muito em dramas pessoais dos personagens, para ate mesmo fugir um pouco dessa linha de tiro que a série caminhou. No primeiro ano havia arcos focados em uma certa galera, mas nessa temporada, existe um tempo considerável de tela para evoluir a trama pessoal de uma turma. Além disso, o roteiro desse ano vai muito na onda do que foi feito ano passado, e entrega uma história bem simples e redondinha para facilitar o entendimento do público. A trama também carrega aquela característica narrativa do Padilha, vindo dessas vez com referencias bem mais afiadas.


A direção foi toda feita pelo Padilha, e vale destacar os dois últimos episódios que pra mim são os mais bem comandados dessa série. Eu acho que agora a produção se acertou melhor visualmente, acho que acertou também dramaticamente e acho que a cara do diretor ficou mais exposta ainda.


A trilha sonora conta com várias musicas nacionais, e muitas delas clássicas para a velha guarda. Os instrumentais também funcionam bem, entregam e criam sempre aquele clima tenso que acompanha dramaticamente a série.


O elenco conta com uma galera principal que manda muito bem, mas tem alguns coadjuvantes sofríveis. O Selton Mello (O auto da compadecida) manda muito bem como Marco Ruffo, a Carol Abras (Gabriel e a Montanha) faz a Verena Cardoni, o Enrique Díaz (As três Marias) é o Roberto Ibrahim, o Lee Taylor (A dona do pedaço) é o Claudio, o Antonio Saboia (Crime Time) é o Dimas, o Osvaldo Mil (Tudo por um Pop Star) é o Guilhome, o Jonathan Haagensen (Cidade de Deus) é o Vander, o Otto Jr. (O abismo Prateado) é o Paulo Rigo, o Emílio Orciollo Netto (Tropa de Elite 2) é o Ricardo Bretch, o Michel Bercovitch (De pernas pro ar) é o Lucio Lemes, o Arthur Kohl (Real) é o Gino, e a Sura Berditchevsky (O Rastro) é a Janete.


Bom jovens, o Mecanismo com certeza terá sua terceira temporada, ate porque chegamos em uma etapa da história que com certeza o público já tem uma noção maior dos fatos. Essa terceira temporada provavelmente se passará durante o governo do Temer, e uma eventual quarta temporada provavelmente falará sobre a posse de Bolsonaro. Vale a pena ficar ligado na série, pois esse é uma produção nacional que ganhou o mundo mostrando um lado bem delicado do no país.

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