Na última sexta-feira chegou na Netflix a nova temporada de uma das séries mais aguardadas de 2019. A produção que o serviço de streaming adquiriu após o grande sucesso do ano passado, voltou a ser o tema mais comentado no último fim de semana, e obviamente nós tínhamos que vir aqui comentar sobre a mais nova etapa dessa história. Por isso jovens, se preparem que hoje é dia da parte 3 de La Casa de Papel.
Antes de começar a análise oficialmente, vale lembrar que nós já fizemos um texto aqui comentando as duas primeiras partes da série. É bem importante você olhar essa análise, pois é lá que você encontra todo o conteúdo contextual que define esse série. Muita coisa que a gente vai comentar aqui tem embasamento lá, por isso é bom você ler o texto das duas primeiras partes, pois assim fica mais simples compreender tudo.
O enredo dessa temporada conta que após os eventos anteriores da série, nossos assaltantes preferidos conseguiram escapas ilesos e agora estão curtindo a vida pelo mundo. Porém tudo começa a mudar quando Rio é pego pela policia e colocado em algum lugar escondido. Para resgatar seu companheiro, a equipe novamente se reúne, e dessa vez prometem que o estrago vai ser bem maior.
Antes de mais nada vale relembrar que a Netflix montou La Casa de Papel em um esquema de temporadas bem particular. A primeira temporada foi dividida em duas partes que funcionam dependentes uma da outras. Para tentar seguir esse protocolo, a Netflix montou esse mesmo esquema na terceira e provável quarta temporada. As duas primeiras partes ocorreram por conta de uma estrategia de marketing para a série, já as novas é pura consequência de uma formula que deu muito certo.
Falando em formula, é inegável que essa terceira parte foi feita exclusivamente por conta do sucesso meteórico que a série conseguiu. Com certeza a Antena 3 (Antigo canal da série) não tinha ideias iniciais de produzir uma terceira parte (Para eles, segunda temporada). Por conta do fandom que o projeto criou ao redor do mundo, a Netflix viu um potencial e basicamente aproveitou toda a formula do sucesso das primeiras partes e colocou em prática aqui. No geral, se você fizer uma análise bem mapeada, essa nova temporada usa a mesma estrategia e cartilha de roteiro da anterior. Querendo ou não, essas jogadas impostas pelo roteiro nas temporadas anteriores, funcionam muito bem, empolgam o público, te deixa emotivo, cria um afeto pelo protagonistas e entrega uma narrativa eletrizante. E o que salvou essa temporada de ser totalmente piegas e completamente repetitiva, foi o fato de que a Netflix sabia que só daria certo se eles aceitassem que aquilo precisa ser daquele jeito, precisava seguir a mesma formula, e assumir isso sem vergonha pra jogar a série no streaming. Tem cenas que são literalmente idênticas, porém funciona porque ate os personagens sabem que aquilo é repetido, e sabem o quanto é surreal isso tudo. De certa maneira a própria série não se leva a sério, é mais do mesmo ( sendo justamente isso pelo que o grande fandom se apaixonou), e por isso eu acho que é isso que levanta um pouco mais essa temporada e torna ela bem aceitável.
Ainda falando de roteiro, é bem interessante o posicionamento dos personagens antigos na história e o arranjo para posicionar os novos. Claramente a maior ausência no arco principal é a do Berlin, em contrapartida veio o Palermo para tentar balancear isso. De mesmo modo, tivemos dois pesos principais a menos no time policial, dando espaço para assim a Alicia e o Tamayo brilharem. O Oslo, e Moscou também ficaram de fora, dando espaço para o Bogotá e para o Marsella, de mesma forma que os reféns principais das temporadas anteriores tiveram arcos diferentes, abrindo assim a chance de novos reféns aparecerem. E os protagonistas também tiveram um crescimento interessante em seus próprios arcos pessoais, tendo ai uma individualidade particular de cada em pelo menos um momento da história.
O crime cometido nessa terceira parte é um pouco mais genérico do que foi apresentado nas partes anteriores, porém ainda sim com uma qualidade intelectual bem forte. No caso das primeiras partes, na teoria houve um período bem maior de tempo para planejar toda a estrategia do roteiro, nesse caso mais recente esse desenvolvimento deve ter começado lá após o sucesso da primeira parte, e mesmo sendo uma estrada considerável, se teve pouco tempo para montar tudo, e por isso os detalhes parecem mais genéricos. Em todo caso, ainda sim foi interessante a função do professor e eu achei que ele se manteve num bom nível de qualidade.
A marca da Netflix no geral já tem um base de qualidade visual ótima, e isso foi muito bem imposto em La Casa de Papel. Independente de qualquer coisa, independente da mudança dos cenários, independente do investimento e etc, é notável que visualmente essa temporada é mais linda, mais bem trabalhada, e mais bonita. A essência foi mantida, porém a qualidade visual e de produção superou o que já tinha sido apresentado ano passado.
Outra evolução que ficou muito clara foi a da qualidade de atuação do elenco. Na análise das duas primeiras partes eu comentei negativamente o trabalho de alguns atores, que nessa temporada se provaram bons interpretes. Alguns deles evoluíram naturalmente, outros se aproveitaram dos cuidados mais detalhista da Netflix nesse sentido e outros ganharam mais credibilidade desde Elite. Por isso eu gosto bastante de todo mundo, e acho que essa terceira parte é mais completa do que eu poderia imaginar.
Por último eu deixei pra falar sobre uma teoria minha voltada para uma certa meta-linguagem. Se lembram que eu falei no inicio da análise que a série se aproveita do sucesso repentino para garantir um reflexo positivo e repetir na formula? pois é, eu acho que de certa forma, eles tentam puxar muito o público da vida real usando o próprio publico da série. La Casa de Papel te puxa para você se sentir lá dentro, e de várias maneiras diferentes te inclui dentro de um personagem que trabalha junto com eles. Seja por um discurso, por diálogos, por referência a vida real, existe uma linguagem que conversa diretamente conosco e agrega naquele sentido de puxar muito o carinho do fandom para um provável sucesso.
O elenco traz a galera clássica que a gente conheceu ano passado, tendo uma evolução nas performances e também trouxe alguns personagens novos bem interessante. O Álvaro Morte (Amar es para siempre) é o Professor, a Itziar Ituño (Loreak) é a Raquel/Lisboa, a Úrsula Corberó (El árbol de la sangre) é a Tóquio, o Jaime Lorente (Elite) é o Denver, o Miguel Herrán (Elite) é o Rio, a Alba Flores (Vis a Vis) é a Nairobi, o Pedro Alonso (Traición) é o Berlin, o Darko Peric (Under the same roof) é o Helsinki, o Rodrigo de La Serna (Diários de Motocicleta) é o Palermo, a Esther Acebo (Money Heist) é Monica, o Hovik Keuchkerian (Assassin's creed) é o Bogotá, a Najwa Nimri (Vis a Vis) é a Alicia Sierra, o Enrique Arce (9 Meses) é o Arturo, o Luka Peroš (A caçada) é o Marsella, e o Fernando Cayo (A pele que habito) é o Coronel Tamayo.
Bom clã, com certeza teremos uma parte quarto, e logo voltaremos aqui para comentar sobre essa quarta temporada. Apesar de La Casa de Papel ter um teto visível, ele ainda não foi atingido e dá para subir mais um pouco a trama para um novo nível. Com isso em mente, espero que a Netflix faça um bom trabalho e entregue futuramente mais uma temporada bem interessante de La Casa de Papel.
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