O que define um filme de super-herói? O que é um filme de super-herói? Essa pergunta pode parecer obvia para muita gente... Mas o que ninguém pode discordar, é que a variação trazida por essa gênero pode ser a próxima fase do cinema. Ontem nós fizemos a análise de Fragmentado e explicamos a ligação do filme com Corpo Fechado e sobre a Mitologia que o M. Night Shyamalan carrega consigo. O objetivo do diretor é tratar os super-heróis como pessoas comuns que vivem no nosso dia a dia. Pegar indivíduos normais, mas que por algum motivo tem algum tipo de diferença e reconhecer eles como pessoas mais que especiais. Ate Fragmentado, tudo era muito visto por cima, em Vidro tudo foi mais concretizado e vamos explicar para você um pouco sobre como isso tudo foi construído.
Obviamente, seria interessante você ler a análise de Fragmentado que a gente já fez, e ficar atento para quando sair a análise de Corpo Fechado você também dar uma olhada, pois esses são os filmes base de Vidro. E acho que o principal problema do nosso filme de hoje é justamente esse. Corpo Fechado e Fragmentado tem tons e propostas totalmente diferentes. Por mais que se passem no mesmo universo, e por mais que o próprio Shyamalan cite isso, eu duvido muito que o personagem da James McAvoy já tinha sido pensado lá em 2000. Fragmentado é um filme que pode ser interpretado como uma "Semi-continuação" mas obviamente é todo fechado nele mesmo, com o próprio tom, com a própria narrativa, e ate com um tipo de filmagem bem diferente do que foi usado em Corpo Fechado. Juntar elementos de dois filmes completamente opostos, foi uma tarefa que o Shyamalan não conseguiu controlar muito bem. A gente vai citar ponto por ponto mais detalhado, porém é importante frisar a ótima proposta. Independente do resultado, o M. Nigth conseguiu fazer um filme INESPERADO ate três ou quatro anos atras, e deixou um gancho em aberto que pode ser utilizado ou não. Ou seja, ele abriu uma porta que pode ser a principal chamada para a próxima geração do cinema. O Shyamalan sabe fazer filme, e se souber aproveitar o que tem em mãos, o futuro pode ser muito bom pra ele.
Agora pulando para o roteiro, o enredo conta a história de três indivíduos que acreditam ser pessoas com dons especiais. Kevin é um cara com mais vinte e três personalidades dentro do seu corpo, e algumas delas são bem mais agressivas que as outras. David é um cara superforte, super-resistente, e possui a habilidade de intuição através do toque em uma pessoa. Já Elijah é um homem que possui uma doença onde seus ossos são extremamente frágeis e ele é alguém totalmente limitado fisicamente. Porém sua mente é extremamente poderosa, e assim ele consegue se tornar mais inteligente do que qualquer pessoa a sua volta. Esses três são diagnosticados com um transtorno de grandeza. Cabe então a doutora Ellie Staple convencer a os três que eles são humanos normais e que super-heróis não existem.
Corpo Fechado, lá em 2000 tinha apresentado esse conceito baseado em quadrinhos, que os personagem das HQ's foram baseados em humanos, mas as habilidades foram sendo sucumbidas com o tempo e atualmente poucas pessoas possuem esse tipo de poder. Esse era um conceito ótimo que foi introduzido em Vidro também, e que trouxe um conflito de perspectiva, pois ate Fragmentado, tudo era visto através de uma visão mais particular. Ate antes de hoje, Você tinha o poder da decisão, da interpretação, se aquilo realmente era algo super, ou se era apenas uma ilusão ou imaginação. Em Vidro você não tem opção. Tudo vai meio superficial ate certo ponto, porém chega um momento que eles abrem e respondem todas as perguntas que ate o momento eram interpretativas. E isso é um reflexo do próprio filme. Os outros dois filmes que vieram antes, tinham a vantagem do elemento surpresa, ninguém sabia o que era exatamente. Vidro todo mundo já foi ver, sabendo mais ou menos o que esperar, e foi isso que também que atrapalhou um pouco o longa. Existe uma frase muito comentada onde dizem que o Shyamalan não sabe copiar, ele sabe inventar. Ate por isso o cara não é de fazer continuações. E foi justamente isso que aconteceu. Ele teve que trazer um conceito que ele mesmo colocou nos filmes anteriores, e montar uma história em cima de uma mitologia que a gente já foi apresentado. Ele tenta ainda fazer um filme de origem, que é o que mais sabe fazer, O Samuel L. Jackson ate cita isso em uma cena... Mas não cola. Tudo tem muito cara de ter sido um desafio pra finalizar, e eu acredito que realmente deva ter sido muito difícil alguém entregar um filme desse não estando habituado.
A direção pende muito para os dois lados. O Shyamalan abusa de todos os elementos que ele usou nos dois filmes anteriores, tem uns planos que ele filma através de frechas que é muito cara de Corpo Fechado, ele também deixa os atores muito soltos e foca em fechar o plano, coisa que aconteceu muito em Fragmentado. Tem aqueles planos de cabeça pra baixo que foi mais utilizado aqui em Vidro, ele vareia em todos os sentidos e sempre tenta criar algo semelhante a os outros dois filmes que obviamente também são dele.
A ação é algo complicado porque parecia ser interessante, mas não foi muito bem executada. Tem algumas lutas durante o longa, mas elas não são tão bem filmadas, quase não empolgam, da para ver claramente que não é o ponto forte do diretor. A interação de alguns personagens é outra coisa bem difícil. O personagem do McAvoy não consegue ter uma sintonia com o Bruce Willis. A personagem da Anya Taylor tem horas que precisa interagir com uma parte do elenco de apoio, e você sente uma desconexão. É bem zuada algumas interações e incomoda algumas vezes. O melhor personagem do filme é sem duvida o do Samuel L. Jackson. O Elijah além de ser um ÓTIMO personagem, ele conseguem contracenar muito bem com todo o elenco. É simplesmente maravilhoso os diálogos dele, tudo que envolve o Elijah é bem produzido.
O roteiro é a peça chave disso tudo, é o que atrapalha e salva o filme em momentos específicos. Mas antes de falar sobre esse tópico é importante reavisar que o filme inteiro, e principalmente o roteiro se apoia em Corpo Fechado e Fragmentado. Ou seja, muita coisa o filme considera que você já entende sobre os personagem. Tem muitas referências aos dois filmes, muita carga baseado na mitologia, e um dos dois principais plots é justamente um bem semelhante ao de Corpo Fechado. Por isso é muito importante estar por dentro, e é por isso que eu cito tanto esses outros dois filmes. Enfim, a trama inicia e corre no seu primeiro ato, sem breve explicações. Ele vai construindo a história para entregar o que os trailers prometeu. Demora bastante para a trama engatar, é bem cansativo, tanto que ate parece um filme de origem as vezes, mas tudo fica bem amarradinho. Dai pra frente você começa a estranhar muito o filme, a trama começa a ficar mais lenta e durante uns vinte minutos, a história foca apenas em aproveitar muito da particularidade de cada um três protagonistas. E isso vai ate quase o final do segundo ato, ou seja, o longa exige muito de você, pois leva bastante tempo para rolar algo realmente interessante. E quando o Elijah entra na trama de verdade, é ai que tudo começa a andar numa velocidade boa e que te prende. O terceiro ato não é ótimo, mas comparado aos dois primeiros é sensacional. Existe duas reviravoltas que mostram o melhor lado do Shyamalan como diretor e apresenta o que ele realmente sabe fazer, e existe um final ao mesmo tempo corajoso, porém meio inexpressivo.
O elenco traz muita gente boa e novamente conta com uma galera sensacional. O James McAvoy (Fragmentado) reprisa seu Papel como Kevin, patrícia, Denis, Etc, e traz outras personalidades que não tinham aparecido no seu filme. A Anya Taylor-Joy (A bruxa) mais uma vez está maravilhosa. Mandou muito bem de novo. O Bruce Willis (Desejo de Matar) também trouxe um personagem legal, foi bom rever ele tanto atualmente, como em cenas reprisadas de Corpo Fechado. A Sarah Paulson (Bird Box) é quem vive a Dra. Ellie Staple, a Charlayne Woodard (Corpo Fechado) volta como a mãe do Elijah, o Spencer Treat Clark (Corpo fechado) era uma criança 19 anos atrás, e voltou fazendo seu papel de Joseph, e finalizando temos o cara que roubou a cena, Samuel L. Jackson (Os Vingadores) mandou muito bem no papel do Elijah.
Vidro respeita muito seu passado, respeita muito sua proposta, sua mitologia, mas exagerou demais pensando em ser pé no chão. A proposta é sensacional, e ate não sendo um filme ótimo, ainda sim consegue te trazer algumas sensações boas. Ao fim do longa, ele deixa claro que poderemos ter mais alguma coisa envolvendo esse universo... Mas não sei exatamente se vale a pena pro Shyamalan. Ele já tem seu nome feito e além disso sabe e gosta do jeito que faz seus filmes. Se quiser ousar é uma boa, mas Vidro mostrou falta acertar ainda algumas pontas se for seguir nesse tipo de filme.
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