O cinema sempre que pode aborda assuntos mais atuais e muitas vezes com uma visão utópica de um tema que pode gerar uma trama interessante. E atualmente podemos presenciar uma grande linhagem de filmes que carrega a Webcam como um dos seus pilares tanto na narrativa como ferramenta de filmagem. CAM da Netflix é um desses novos trabalhos que usa esses dois elementos para montar uma história que nesse caso particular mira no suspense.
O objetivo do filme é um ponto que não fica muito claro em nenhum momento e que acaba complicando o entendimento do próprio. CAM tem uma proposta muito boa e acerta quando quer criar um clímax tenso que deixe o público aflito, porém esses momentos em questão de roteiro se tornam vazios quando você percebe que o filme não se encontra e não se acha em sua proposta. Claramente temos o gênero suspense e temos um tom mais fechado, porém os outros aspectos são indefinidos e se tornam maleáveis e inseguros conforme a a história vai sendo construída.
O enrendo apresenta a garota Alice que na internet e popularmente é conhecida pelo seu codinome "Lola". A jovem que trabalha como Camgirl em uma plataforma online, acaba vendo sua vida virar de cabeça pra baixo quando sua conta é roubada e uma sósia assume seu lugar. Lola então precisa decifrar e entender o que esta acontecendo antes que sua vida saia do controle.
Falando dos pontos altos do filme, temos que citar a direção do Daniel Goldhaber. Por mais que ele faça um trabalho utilizando principalmente os conceitos básicos do suspense/terror, ele aplica de maneira muito variada e consegue criar alguns clímax que realmente funcionam. Em alguns momentos fica repetitivo certas ações, porém ainda sim o peso das cenas cria uma breve angustia. O Daniel também soube moldar muito bem a Alice, trazer camadas mais pessoais da personagem foi um boa solução para expandir o arco da própria.
Falando em Arcos, é importante frisar a relevância que os personagens secundários podem ter. CAM tem um bom apoio que poderia ser bem mais aproveitado em vários aspectos. A Família da Alice é praticamente jogada de lado e só é introduzida quando é conveniente para o roteiro. Esse detalhe só se torna um problema justamente pelo jeito vazio como o irmão e a Mãe de Alice são utilizados no longa. Esses personagens que poderiam contribuir e criar mais camadas para a própria trama aparecem no máximo quatro vezes no filme.
O elenco principal traz um galera realmente boa. A Madeline Brewer (Orange is the new black) manda muito bem e destrói fazendo a protagonista Alice. O Devin Druid (13 Reasons Why) vive o Jordan nesse trabalho, a Melora Walters (Venom) interpreta a Lynne, a Flora Diaz (Never Here) entra na pele da Fox, o Patch Darragh (A primeira noite de crime) interpreta o Tinker, e o Michael Dempsey (A troca) é o Barney.
O roteiro foi deixado por último pois é o tópico mais delicado de se tocar nesse longa... Pelo simples fato de não existir um final. Exatamente, a trama é concluída sem a finalização do arco principal e sem a finalização de arco nenhum. Além disso a construção da história é sofrível, em seu principal aspecto de abrir portas que eles não podem fechar. CAM tem um primeiro ato focado totalmente fixar cada personagem em seu ponto especifico na trama, para só começar apresentar o problema no meio do segundo ato e seguir criando um terror psicológico ate o fim do filme onde as principais resoluções ficam em aberto. O roteiro tenta explicar alguns detalhes que precisavam obrigatoriamente de respostas, mas foram soluções tão rasas que é preciso ignorar muitos furos para aceitar aquela situação.
CAM é um longa que abusa dos seus principais pontos fortes: A direção e o talento da Madeline. Com isso eles conseguem moldar uma experiencia totalmente focada na parte psicológica que o filme pode te proporcionar. Quando o peso e o foco estão direcionados para a protagonista, o acerto é quase inevitável. Ela carrega fácil o projeto nas costas e salva CAM escondendo muito dos furos que poderiam ser mais visíveis se não fosse seu bom trabalho.
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