Durante a história do cinema, muitas vezes surgiram filmes que apesar de não terem feito sucesso na bilheteria, ganham seu espaço e reconhecimento após um tempo e em algumas ocasiões acabam se tornando longas bem avaliados justamente por trazer um trabalho complexo que nem todo mundo compreende em sua essência. Lá em 2001 estreou um desses trabalhos que ate hoje em dia é muito debatido por quem assiste esse longa tão especial. E depois de muita espera, finalmente separamos um tempo para falar desse trabalho muito querido pela galera cult. Por isso jovens, se preparem que hoje é dia de Donnie Darko.
Pois é clã, para quem nunca ouviu falar, Donnie Darko é um filme de ficção Cientifica com elementos de suspense que basicamente tem uma trama tão complexa, que após o fim do filme, mesmo ele entregando na teoria seu trabalho totalmente redondinho, fica tudo completamente confuso na cabeça de muitos. As teorias sobre como o filme funcionava se tornaram tão frequentes no mundo cinematográfico, que tempos depois foi lançado um livro oficial que tentava explicar toda a mitologia por traz de Donnie Darko. Baseado nesse livro, surgiram várias outras teorias, porém existe uma oficial que nós iremos contar no final dessa análise para assim evitar spoiler de quem não quer perder a experiencia do filme.
O enredo nos apresenta um jovem chamado Donnie Darko que na noite de 02/10/1988 acaba no meio da noite escapando de um acidente onde uma turbina de avião caiu exatamente em cima de sua cama. O jovem só se salvou, pois naquela noite tinha tido uma crise do sonambulismo e na mesma ocasião acabou visualizando um rapaz imaginário fantasiado de coelho que lhe avisou que o fim do mundo está próximo. A partir desse dia, Donnie começa a obedecer seu amigo imaginário Frank, enquanto aos poucos vai descobrindo o que isso tudo significa.
Bom jovens, apesar de ser no roteiro onde as discussões sobre Donnie Darko são depositadas, existem outros atributos nesse filme que se destacam de mesma forma. Um dos principais é sem duvida o trabalho de direção do Richard Kelly. Esse cara era um estreante da direção quando lançou esse longa, e ele basicamente se consagrou no cinema por fazer um trabalho que conversa muito bem com a linguagem do filme e também conversa perfeitamente com o público. Além da qualidade natural de direção do Kelly, que já um atributo incrível, ele ainda respeita muito bem a evolução natural do filme, utilizando estrategias que visualmente entregam as características necessárias para aquele momento do trabalho. O primeiro ato, por exemplo, é todo banhado de um certo suspense, e a direção segue por essa trilha, pisando ate em certos elementos básicos de terror. Quando o longa entra na parte da ficção, ele se reestrutura e os elementos misticos começam a ser introduzidos de forma totalmente gradativa. Apesar do orçamento não ter sido lá essas coisas, e visualmente falando ele não ser um trabalho lindo, é muito bem filmado, com cenas bem arranjadas e principalmente muito bem montadas. O Richard sabe mais que tudo posicionar bem a câmera, para focar em pontos estratégicos que são o epicentro do que a gente precisa raciocinar para ter um entendimento melhor de tudo.
Como eu já citei, a montagem desse projeto é muito boa, e ela funciona de maneira peculiar, porém natural. A questão é que o filme é montado através de cenas chaves que são alavancas especificas para o plot. A montagem segue esse padrão, naquele velho estilo de fazer o filme conversar com o público em todos os seus elementos. Indo por esse caminho, você também pode acrescentar que o ritmo do filme, apesar de ser lento, não se torna cansativo, pois a montagem de cenas, com o cunho de mistério, deixa sempre nosso alerta ligado, e isso tudo dramaticamente funciona perfeitamente.
Outro ponto de peso é a trilha sonora. Como eu já afirmei, o orçamento desse projeto foi bem baixo, o que fez vários aspectos do longa ficarem bem simples... Mas não foi o caso da poderosa trilha oficial. Dentro de uma playlist no minimo tocante em vários sentimentos humanos, a gente destaca com certeza "Mad World", que foi uma canção que transcendeu os anos e virou um som icônico, sendo referência ate hoje no cinema e na TV.
O roteiro é a peça X de Donnie Darko, e independente de qualquer outro atributo, é nesse ponto que está depositado o trunfo principal do filme. Claro que ele não teria se tornado cult sem sua direção ou ate mesmo a trilha... Mas foi a história que criou toda a base para tudo. O fato é que mexer com viagem no tempo não é simples, e Donnie Darko só meteu o loko e jogou essa teoria em níveis catastróficos. A história através dos diálogos vai te empurrando para essa teoria de viagem no tempo, mas essas discussões são bem panos de fundo, para que na verdade o jogo temporal acontecesse nas ações de personagens. O fato é que a maioria dos tópicos envolvendo roteiro, as pontas dos tópicos se amarram e caminham juntas em uma premissa que só tem sentido quando você compreende a essência e a mitologia por traz de Donnie Darko.
O esquema é o seguinte: Cada personagem nesse filme tem seu próprio arco, e alguns, por mais que aparente ser irrelevante, tem um peso real no final. Cada ação imposta, principalmente pelo Frank, tem um cunho objetivo que vai ser utilizado no desfecho da trama. Cada informação dada por alguém, vislumbra uma sombra do que pode estar envolvido em toda essa trama, e principalmente cada detalhe visual pode ser um sinal do que está por vir. Entendem? Muita coisa pode parecer gratuita, mas cada cena joga uma migalha que pode ser interpretada para uma teoria.
Bom clã, com isso concluímos que no geral o roteiro no geral é muito inteligente, e apesar de ser bem redondo, a sua interpretação do que você assistiu, pode definir muito o que você vai imaginar e de como ocorreu o desfecho. Mas agora, para ajudar em tudo, eu vou passar a explicação oficial para vocês e então vocês mesmo podem tirar suas próprias conclusões. Obviamente o próximo paragrafo conterá spoiler's e por isso ficará destacado de vermelho.
Então, imagino que se você está aqui, Donnie Darko já foi assistido por completo. Por isso, vamos lá. É o seguinte: apesar de ser complexo, eu vou tentar ser o mais didático possível em dar essa explicação oficial. Basicamente a explicação diz que tudo que você assistiu dentro daqueles 28 dias se passava em um universo paralelo criado por uma certa singularidade no tecido da realidade. O fato é que quando essas "singularidades" acontecem, algumas vezes elementos de uma realidade vão para outra. Nesse caso do filme, uma turbina de avião saiu da realidade oficial e foi para a paralela. Como essa segunda realidade na teoria não deveria existir e em algum momento vai acabar (no caso de Donnie Darko, em 28 dias), o universo, ou um ser divino, faz jogadas usando seres vivos ou mortos daquela realidade para posicionar todo mundo em um ambiente necessário para que os eventos aconteçam de maneira natural na realidade 1. Ou seja, no fim do filme, o Donnie (criatura viva), assim como o Frank (criatura morta) tinha poderes para fazer qualquer coisa naquela realidade. Por isso, para salvar sua namorada, ele sabotou o avião que sua mãe estava e fez a turbinar cair na primeira realidade, no passado, matando ele, como deveria acontecer para tudo correr normalmente.
O elenco desse trabalho traz uma galera maravilhosa. O Jake Gyllenhaal (Homem-Aranha: Longe de casa) é o Donnie Darko, a Jena Malone (Na natureza selvagem) é a Gretchen, a Drew Barrymore (As Panteras) é a Karen, a Katharine Ross (The Hero) é a Dra. Lilian, o Patrick Swayze (Ghost) é o Jim Cunninghan, o Noah Wyle (Piratas do vale Silício) é o Dr. Kenneth, a Mary McDonnell (Independece Day) é a Rose Darko, a Maggie Gyllenhaal (Batman: O cavaleiro das trevas) é a Elizabeth Darko, o Holmes Osborne (A caixa) é o Eddie Darko, a Daveigh Chase (O chamado) é a Samantha Darko, o James Duval (Independence Day) é o Frank e a Jolene Purdy (Under The Dome) é a Cherita.
Bom clã, a história de Donnie Darko não parou por ai, existe uma continuação de 2009, e com certeza em breve nós voltaremos para falar dessa sequencia aqui. Enquanto isso continuem teorizando, pois já se passou quase 20 anos, e esse trabalho que trouxe o jovem Jake Gyllenhaal para o estrelato ainda dá muito o que falar.
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