Mais uma quinta-feira chegou e mais uma grande produção cinematográfica estreou nos cinemas do nosso Brasil. E hoje foi a vez de um trabalho que é considerado um dos mais relevantes de 2019, justamente por juntar várias estrelas que são figurinhas carimbadas de Hollywood e do Oscar. E sendo esse o nono filme e provável penúltimo trabalho de Quentin Tarantino, se preparem jovens que hoje é dia de Era uma vez em... Hollywood.
Bom clã, creio que vocês devam saber, mas caso estejam desinformados, Once Upon a Time in Hollywood é um filme inspirado em fatos reais, retratando a Hollywood dos anos 60. Quando eu digo "inspirado", quero dizer que ele caminha lado a lado com fatos reais que aconteceram naquela época, mas não necessariamente tudo que está em tela realmente ocorreu. E isso é uma informação básica do trabalho, já que os dois protagonistas são personagens fictícios que inclusive interagem com personalidade que realmente existiram na vida real. O fato é que a história desse longa anda em paralelo com a história de Charles Manson. Para quem não sabe quem foi esse individuo, durante a análise nós iremos fazer algumas breves citações sobre ele, mas no geral ele é um hippie assassino que matou uma das grandes atrizes dos anos 60, a lindíssima Sharon Tate.
O enredo nesse trabalho nos apresenta um grande ator de Hollywood que fez muito sucesso nos anos 50 conhecido como Rick Dalton que tem como seu principal parceiro o seu dublê Cliff Booth. A vida dos dois começa a se complicar quando Rick começa a sentir sua relevância chegando ao fim e seus papeis se tornando cada vez mais irrelevantes. Com a carreira de Rick afundando, Cliff também começa a ser prejudicado e assim os dois agora terão uma jornada inteira para resolveram sua vida naquela confusa Hollywood dos anos 60.
Então clã, normalmente nós deixamos para falar sobre o elenco no final da análise, certo? Vamos seguir com esse cronograma como sempre, porém no caso de hoje, é legal aqui no começo a gente citar um fato que apesar de ser previsível, vendo em tela foi mais incrível ainda: O fato é que o filme todo é muito bem atuado. Precisamos dizer que o elenco inteiro é corpulento de gente que sabe trabalhar, e aqui eles surpreenderam mais do que a gente esperava. Uma das que mais rouba a cena é sem duvida a Margaret Qualley. Ela que já tinha provado seu talento em outros trabalhos, brilhou demais aqui. A dupla principal também entrega muito, o Brad Pitt e o DiCaprio estão incríveis. Além disso a Margot é uma estrela real e está fantástica. A atuação desse filme é algo sublime que com certeza dá orgulho de assistir.
Agora falando do roteiro, esse pilar do filme tem umas particularidades bem interessantes. A primeira que a gente pode citar é o arco principal que é bem pé no chão e em boa parte do filme, sem muitas mirabolâncias. Existe vários núcleos dramáticos, porém todos eles conseguem se encontrar em um epicentro que fica mais claro se você estiver ambientado sobre a história de Hollywood nos anos 60. O fato é que a trama geral do filme funciona de maneira bem clara, onde é possível levemente conectar os núcleos, já que a maior parte dos personagens principais se cruzam pelo menos uma vez ou tem alguma leva ligação. Além disso, o filme todo é bem redondinho dentre dele mesmo, pois aproveitando o fato de que os núcleos se cruzam, é possível afirmar que no final de tudo todos os arcos são fechados e a grande deixa é justamente o que levaria tudo a alguns eventos que posteriormente ocorreram na vida real. Como o foco é na trama do Rick e do Cliff, o Tarantino entrega o fechamento da trama deles, e as pontas que ficam já não diz respeito ao foco do trabalho.
Como eu já falei, era uma vez em... Hollywood não tenta ousar demais, e durante quase todo o filme mantém sua média e fica dentro da caixinha. E justamente por ser um filme cinematograficamente falando bem respeitoso consigo mesmo, a gente consegue acompanhar tudo com clareza e também evoluir junto com os personagens. Conforme o filme vai passando, nós começamos a entender muito mais o Rick e o Cliff. É gostoso você entender aos poucos as peculiaridades de cada um e começar a se sentir confortável com eles.
Já que a gente falou dos personagens, tem umas coisas bem legais voltadas para os nossos protagonistas, e ate para os coadjuvantes. O fato é que todos os personagens do filme são muito legais. Eu gosto bastante de todo mundo que foi apresentado, sem exceção, e gosto das funções e das relevâncias destinadas. Mesmo quem tem só uma cena no trabalho, consegue fazer a diferença em certo momento e cria uma pequena importância em certo arco.
Mesmo a dinâmica de quase todo mundo dando certo, é claro que a dupla principal é a que tem a melhor sinergia. Além dos dois terem um puta talento natural que entrega bem a relação da dupla, o Tarantino ainda sua várias estrategias de direção para fazer uma alusão a vida oposta que os dois tem. Por isso ver essa visão do ator e do dublê que se parecem tanto em vários aspectos, porém tem vidas totalmente diferentes, acrescenta muito na dinâmica justamente pelo fato deles viverem em mundos diferentes.
Mas o Tarantino não só brilha para melhorar a dinâmica dos protagonistas não, o diretor também agrada quando usa algumas particularidades do seu trabalho para aplicar um padrão entre personagens distintos. Durante o longa inteiro você vai notar vários movimentos de câmera, ou gestos repetitivos em personagens que criam uma identidade própria para aquela turma que vivia em Hollywood naquela época de acordo com a visão do diretor. Isso é uma característica muito boa, que durante todo o trabalho é usada para ambientar melhor o público naquele mundo.
Antes da gente seguir falando do trabalho do Tarantino, só para finalizar a parte do personagens, vale citar que o figurino e a maquiagem deram um show, já que conseguiram construir muito bem tanto as personalidades históricas do longa, quanto deram uma identidade forte para os personagens inventados.
Além desse padrão visual entre personagens, o Tarantino também manda muito bem em construir cenas. Durante todo o longa o diretor vai alimentado vários pontos do trabalho que precisarão ser utilizados no clímax. O fato é que isso é feito de maneira tão natural, que quando acontece, parece algo bem casual. Por isso essa estrategia é um trufo bem utilizado pelo diretor, pois ele consegue sempre construir cenas muito boas naturalmente.
E essa naturalidade também é influenciada por dois aspectos bem importantes: Os detalhes e a criatividade. Nós já sabemos que o Tarantino é um diretor excêntrico e super criativo. Aqui ele não deixa essa característica passar, já que o modo de filmar dele utiliza várias particularidades que muitas vezes são cômicas, mas normalmente só reafirmam a genialidade do diretor. Além disso, várias vezes, enquanto rola uma cena em primeiro plano, é possível perceber alguns detalhes no plano de fundo, e as esses detalhes são bem interessantes pois mostra que tudo ali funciona em um certo efeito de engrenagem.
Existem duas coisas nesse trabalho que na minha opinião definem muito a assinatura do Tarantino. A primeira delas é o modo peculiar e super genial que ele dirige suas cenas. O diretor desse projeto várias vezes filma deixando o ator em um plano mais fundo, faz muitas cenas sem cortes, usa a câmera para ambientar bem os nossos personagens, e muitas vezes deixa a cena rolar com a dinâmica sendo executada descentralizada ou fora da tela. O fato é que a direção do Tarantino é ótima nesse projeto, e provavelmente vai concorrer a mais um Ocar. A segunda coisa que define muito a assinatura do Tarantino, para mim, é a violência. Nesse trabalho, esse aspecto não foi utilizado tanto assim, mas quando aconteceu, o exagero não foi poupado e literalmente tivemos aquelas cenas de luta super pesadas que são a cara do Quentin.
Para finalizar a parte do diretor, eu acho que vale a pena falar da montagem, que é outro aspecto no qual o Tarantino não decepciona. O diretor não deixa cenas soltas, sempre faz transições ótima, sempre conecta os arcos de maneira satisfatória e entrega uma experiencia maravilhosa. A montagem funciona demais aqui, sendo esse também um dos pontos fortes do diretor.
O lado cômico desse trabalho é quase todo depositado no roteiro em diálogos propriamente escritos para uma cena cômica. Porem, o que fundamenta mais ainda essa cena é justamente o tipo de humor utilizado. Aqui, todo o humor é sempre numa vibe mais irônica. Qualquer discurso mais engraçado ou qualquer dinâmica mais divertida, sempre que for relevante, vai entrar algo ironizando os personagens, ou as personalidades históricas, ou Hollywood, ou qualquer outro pilar o filme.
A parte musical é sempre legal nos trabalhos do Tarantino, e aqui não foi diferente. A trilha sonora é ótima, a edição de som é incrível e como o diretor usa o som ambiente como efeito dramático é algo bem exemplar.
Não podemos finalizar essa análise sem falar de uma das coisas mais importante de tudo: As referências históricas. Como eu disse no começo do texto, esse longa anda em paralelo com a história de Charles Manson, e eventualmente aparece alguma referência voltada para ele. Além disso tem muitas referências a vida da Sharon Tate, tem muitas referências aos anos 60, muitas referências a Hollywood daquela época e também aparece algumas personalidades daquele período. Historicamente falando, mesmo a história sendo boa parte ficção, eu acho que o longa funciona demais.
O elenco desse projeto é uma das coisas mais lindas que vocês vão ver em 2019. O Leonardo DiCaprio (Titanic) é o Rick Dalton, o Brad Pitt (Clube da luta) é o Cliff Booth, a Margot Robbie (Esquadrão Suicida) é a Sharon Tate, a Margaret Qualley (The Leftovers) é a Kitty Kat, a Dakota Fanning (Uma lição de amor) é a Squeaky, e o Timothy Olyphant (Deadwood) é o James Stacy. Vale lembrar que a gente também tem nesse elenco, fazendo personagens menos relevantes uma lista de nomes como: Luke Perry, Al Pacino, Maya Hawke e Kurt Russel.
Bom jovens, no geral eu poderia definir Era uma vez em... Hollywood como uma especie de sátira de Hollywood nos 60, e/ou... um trabalho feito para reafirmar o talento todos os envolvidos. Esse projeto claramente foi feito para premiações, e o elenco de peso agrega muito para reafirmar isso. Esse é um longa que não vai agradar uma parte do grande público, mas independente disso, eu posso afirmar que no meu ver são duas horas e 45 minutos muito satisfatórias que você ter dando uma chance a Era uma vez em... Hollywood.
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