Em uma semana onde o sessão cinema priorizou filmes baseados em personalidades da vida real, hoje eu venho aqui para falar pela primeira vez sobre uma atleta. Full out da Netflix conta a história real de uma ginasta americana chamada Ariana Berlin e sua superação após um acidente.
A proposta da Netflix com Full Out é bem clara desde o inicio do filme. O longa desde da sua apresentação inicial destaca muito o estilo pipocão que a produção vai seguir durante as próximas horas. Sendo uma produção do Sean Cisterna, não se esperava algo diferente, o estilo mais caricato e muito semelhante a produções live action da Disney focado em dramas adolescentes é o objetivo do filme... E ele acerta em cheio a sua proposta. O trabalho Sean é uma das melhores coisas que nós podemos destacar. Os planos mais complicados que são da parte esportiva, ficam muito bem colocados na tela e com uma inovações muito especiais quando se trata de planos mais difíceis de transmitir para o telespectador. Outro modo de filmagem muito bem utilizado pela direção é os planos sequencias, principalmente nas cenas de dança. Casou muito bem as coreografias montadas pelo grupo artístico acompanhada pelo eficiente trabalho do Sean.
Ainda focando na direção do filme, temos que dar destaque as transições muito bem arranjadas e as sacadas espertas de referências principalmente do ambiente hospitalar com o espaço de treinamento da protagonista. Detalhes importantes como esses foram os responsáveis por fazer o público comprar de maneira eficiente o drama da Ariana.
Falando do elenco, a gente chega agora num ponto complicado da produção. O filme não conta com grandes estrelas e nem traz nomes que fazem um trabalho ótimo. A protagonista Ariana Berlin é vivida pela cantora e atriz Ana Golja (Next Class). A escolha da personagem principal teve com certeza como principais critérios os atributos extras que ela poderia acrescentar na produção. A Ana atua naquele limite do aceitável, não faz um trabalho muito bom e nem merece créditos pelo seu papel, fica muito atras por exemplo da Sara Fisher (Beijar e chorar) que interpreta uma das melhores amigas de Ariana, a Isla. Outra que faz um trabalho muito mais completo é a Asha Bromfield (Riverdale). Ela que interpreta a fisioterapeuta Michelle, precisa expressar bem menos variações de sentimentos do que a protagonista, porém mesmo assim em suas cenas ela rouba totalmente a atenção. A Ana Golja traz seu lado artístico musical e sua presença forte com total prioridade para o filme, mas quando se trata de entrar de cabeça no papel, vemos várias reações forçadas de sua personagem. Em todo caso o filme não tem um elenco brilhante, mas como seu público alvo não exige tal atributo, o que foi apresentado encaixa muito bem no objetivo.
Uma coisa que com certeza prejudica a experiencia é a dublagem. Comparado ao produto original, as vozes em português destoam bastante e muitas vezes se perdem nos diálogos. Com certeza assistir o longa legendado faz a imersão na história ser mais realista e a experiencia bem mais agradável.
O roteiro é a coisa mais complexa de se falar nesse filme. A proposta apresentada era realmente muito boa, o roteiro poderia sair do papel de maneira sublime de várias formas diferentes, mas alguns deslizes graves fazem você olhar certas situações com uma expressão bem divergente. O longa tem uma hora e meia e corre nesse tempo de maneira muito lisa. Meia hora a mais de filme poderia ser o ideal para acrescentar avanços que a história precisava de maneira mais coesa, porém ao mesmo tempo poderia tornar situações monótomas, era um risco válido que com certeza foi retirado em sua versão final. Durante todo o tempo, boa parte das cenas parecem ser previsíveis, mas muitas vezes essa previsão vem de maneira muito criativa, e isso é um ponto positivo do roteiro. Você sabe o que vai acontecer, mas acontece todo um arco para chegar naquele objetivo. A principal reviravolta do primeiro ato é justamente quando descobrimos a verdadeira personalidade da Michelle. E quando a dança é introduzida na história, você abre mil portas de opções para onde o enredo pode correr. Ate o meio do segundo ato havia cenas que claramente foram soluções de roteiro para criar o drama da história, mas ate ai tudo bem, a gente aceita. O momento mais surreal de todos foi a batalha de Ginastica X Dança. A cena foi muito bem feita, tem um trabalho de fotografia e coreográfica sensacionais... Mas o ponto aqui é como essa cena foi introduzida. Ela veio após um momento de tensão pesado. A última que eu esperava que fosse ocorrer ali era uma batalha de ginastas contra dançarinos. Foi muito desnecessário. Após esse vacilo o longa segue, e no final do terceiro ato o roteiro começa a ganhar um pouco de qualidade. Os plots finais são maravilhosos, o penúltimo por mais previsível que seja, é colocado de um jeito muito, muito empolgante no meio da trama. E o último que é uma das cenas que faz referência ao nome do filme, tem um trabalho de roteiro e direção combinados que é lindo de se ver. O Full Out final traz uma perspectiva geral de tudo que você assistiu, todos os atributos do filme podem ser encontrados naquela cena.
Fechando a análise, temos que falar aqui sobre as cenas "Pós créditos" do filme. Quando você descobre que a verdadeira Ariana, a verdadeira Val e várias outras ginastas reais fizeram parte do elenco em pequenas cenas, você reflete tudo que assistiu e mais uma vez parabeniza o Sean que carregou todo o peso de todos os pontos positivos do filme em suas costas. A verdadeira Ariana Berlin interpreta uma ajudante da treinadora Val...Ela aparece em pouquíssimas cenas do filme, mas você percebe durante todas as aparições dela, algo diferente que incomoda... Quando os créditos chega, você descobre a realidade sobre a personagem e consegue finalizar o filme com o alto astral lá em cima.
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